Ó noite! coalhada nas formas de um corpo de mulher,
vago e belo e voluptuoso,
num bailado de sonho, com o cenários dos astros,
mudos e quedos.
Estrelas que as suas mãos afagam e a sua boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos destinados aos poetas
que lhes decoraram o nome.
Ó noite! Coalhada nas formas de um corpo de mulher!
esconde a vida no seio duma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que nós a olhemos como uma lua sonâmbula.
Fernando Namora, in Mar de Sargaços (Coimbra, 1940)
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