sábado, 8 de outubro de 2011

profecia

Nem me disseram ainda
para o que vim...
Não sei se sou bom, se mau,
se filho amado
ou rejeitado...

Sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e renegaram tudo
por correr no meu sangue
um outro sangue...

E obedeço
– sempre! –
a esse incitamento mudo!

Também sei que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar...

Mas também sinto
– sempre! –
que não posso recuar.

Hei-de beber fel, sofrer as pragas,
ser ultrajado e temido;
hão-de abandonar-me à morte...

Hei-de espantar os rebanhos dos montes,
ser bandoleiro de estradas...
– Mas não sei trocar a minha sorte!

Não me venham dizer



Fernando Namora, in Relevos (Coimbra, 1937)

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