sábado, 8 de outubro de 2011

noite! noite!

Ó noite! coalhada nas formas de um corpo de mulher,
vago e belo e voluptuoso,
num bailado de sonho, com o cenários dos astros,
              mudos e quedos.

Estrelas que as suas mãos afagam e a sua boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos destinados aos poetas
que lhes decoraram o nome.

Ó noite! Coalhada nas formas de um corpo de mulher!
esconde a vida no seio duma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que nós a olhemos como uma lua sonâmbula.


Fernando Namora, in Mar de Sargaços (Coimbra, 1940)

Sem comentários:

Enviar um comentário